terça-feira, 1 de fevereiro de 2011


A MISSA DOS VAQUEIROS EM SERRITA (PERNAMBUCO)

 quarta-feira, 30 de julho de 2010  

Vaqueiros, aos poucos, sobem ao altar montados em seus cavalos e entregam objetos pessoais 
Mil vaqueiros, de várias cidades, celebram missa em alusão a
Raimundo Jacó,
primo de Luiz Gonzaga Serrita (PE). O vaqueiro José João de Freitas amanheceu o dia com o cavalo selado. Vestiu as perneiras, o gibão, o peitoral, botou o chapéu e tomou o caminho do Sítio Lajes, município de Serrita (PE). Depois de duas horas de cavalgada, ele chega ao seu destino, onde se juntou a mais de mil vaqueiros, todos vestidos a caráter, para participar da 40ª Missa do Vaqueiro, em sufrágio à alma de Raimundo Jacó.Na madrugada de 8 de julho de 1954, o vaqueiro Raimundo Jacó foi traiçoeiramente assassinado com uma pancada na cabeça nas caatingas do Sítio de Lages, distrito do município de Serrita, localizado no alto sertão Araripe, a 553 quilômetros de Recife. A tragédia motivou vaqueiros, cantadores e religiosos a celebrar a missa em homenagem a Raimundo Jacó, todos os anos, no terceiro domingo de julho.A missa transformou-se num mega espetáculo cultural, religioso, turístico, popular e tradicional que tem sua origem assentada em uma história sangrenta, atraindo milhares de visitantes entre vaqueiros, curiosos, turistas e políticos. Com a morte do padre João Câncio e de Luiz Gonzaga — idealizadores da cerimônia, ao lado do poeta Pedro Bandeira. No pé da estátua de Raimundo Jacó, no centro do Parque de Vaquejadas, a aposentada Maria do Socorro dos Santos acendeu uma caixa de velas para o que ela chama de “almas vaqueiras”, ali representadas por Raimundo Jacó que, para ela, é um “santo”.Missa A música “Jesus Sertanejo” estronda na Caatinga e ecoa no chapadão do Araripe, anunciando o início da missa. Na frente do altar, em forma de ferradura, mais de mil vaqueiros, montados em seus cavalos, escutam, em silêncio, a mensagem do celebrante que diz: “Rogai pelo vaqueiro senhor, viajante e mensageiro de um mundo tostado e silente, figura profundamente humana na sua casa, no seu amor, na pobreza e na incerteza. Guardai a sua morada contra o mal, a mágoa e o dissabor”.O celebrante embarga a voz e prossegue: “Senhor tem piedade deste homem, o vaqueiro, um quase esquecido dos homens. Tem piedade do vaqueiro sentado à mesa. Em meio à pobreza, no meio da vida e no meio do mundo, tão forte e sem sorte, sem meios para mudar sua imagem, sua face e seu perfil social”. A cerimônia tem continuidade intercalada com músicas cantadas pelo Coral de Aboio de Serrita. O poeta Pedro Bandeira afina a viola, começa a improvisar versos com cada objeto de uso pessoal oferecido pelos vaqueiros. Um a um, o grupo de vaqueiros sobe ao altar. Montados em seus cavalos, fazem a entrega do chapéu, gibão, perneira guarda-peito, luvas, botas, selas, alforjes, manta cabeçada, chocalho, esporas, chicote, careta, maca búzio, relho e peia. Depois da comunhão, a missa termina com o canto de despedida.

Fnte: Diário do Nordeste