O Colégio São Bento, do Rio de Janeiro, chegou ao topo do ranking do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) divulgado nesta segunda-feira (12), derrubando o Colégio Vértice, de São Paulo, campeão do ano passado. Fundada no século 19, a instituição particular teve a melhor nota entre as mais de 20 mil escolas brasileiras que participaram da avaliação.
A escola carioca recebeu a maior média: 761,7 pontos no Enem. São 18 pontos a mais do que o Vértice, que desta vez ficou na terceira posição (743,75 pontos), atrás também do Instituto Dom Barreto, colégio particular do Piauí que obteve nota de 754,13.
O bom desempenho do São Bento é resultado do ensino voltado para disciplinas humanísticas e da permanência dos alunos dentro dos muros do colégio durante boa parte do dia. Com horário integral e 40 horas de aula semanais, a escola centenária conta com 1.108 alunos.
Para se tornar campeão, o São Bento contou com uma soma de fatores, afirma a supervisora pedagógica, Maria Elisa Penna-Firme Pedrosa. Ela aponta a experiência dos professores, participação ativa dos pais, metas rígidas e aulas extracurriculares como parte do diferencial do colégio.
Só meninos
O Colégio São Bento só aceita meninos como seus alunos. Quando se trata de currículo pedagógico, o São Bento realmente se diferencia dos outros colégios. Além das disciplinas tradicionais, a escola oferece aulas de história da arte, apreciação musical, filosofia, cultura clássica e sociologia.
Um dos responsáveis pelo bom desempenho da escola no Enem, João Gabriel Pontes, de 18 anos - atual estudante de direito da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), um dos cursos mais concorridos do Rio - conta que só conseguiu ser aprovado em uma boa universidade por ter o estudo diferenciado.
Segundo Maria Elisa, a maior parte dos professores do São Bento tem mestrado e doutorado. No entanto, há muitos professores jovens, “mas estes chegam apenas se tiverem experiência ou por uma indicação muito boa”, diz ela.
Apenas homens podem estudar no colégio São Bento. Crédito: Fabio Motta/Agência Estado - 28/04/2009
A instituição, localizada no topo do morro de São Bento, no centro da capital fluminense, recebeu em seus corredores e jardins nomes que ficaram nacionalmente conhecidos pela sua influência na música, no teatro, na arte e no entretenimento do país.
Entre os ilustres ex-alunos estão Noel Rosa, Heitor Villa-Lobos, Pixinguinha, Lamartine Babo e Procópio Ferreira. Também estudaram no colégio o humorista Hélio de La Peña e o apresentador Jô Soares.
Polêmica
A discussão sobre a possibilidade de o Colégio São Bento receber meninas gera polêmica há muitos anos. Afinal, um dos melhores colégios do Rio de Janeiro e agora do Brasil deveria continuar mantendo o ensino de excelência apenas para os homens?
Os alunos são unânimes: o melhor para o colégio é continuar com suas regras, já que elas são bons frutos. O desenvolto Henrique Rondinelli, de 18 anos, outro aluno responsável pela boa nota no Enem 2010, defende a posição da escola.
- O colégio sempre foi masculino e alcançou esse nível por focar um tipo de ensino. Não é preconceito, mas acho que temos que manter como está, já que está dando certo. O colégio não age de maneira conservadora.
A questão promete continuar por muito tempo. O São Bento só aceitou professoras a partir de 1960, depois de 112 anos de fundação.
Com turmas do primeiro ano do ensino fundamental à terceira série do ensino médio, horário integral e ensino diferenciado, o preço da mensalidade é alto.
Para que os alunos possam desfrutar de um dos melhores ensinos do país, a supervisora conta que os pais têm que desembolsar cerca de R$ 2.000 mensalmente, o que inclui material escolar, almoço e dois lanches.
- O valor mantém o investimento que fazemos. Mas a gente tem um programa que contempla entre 15% a 20% dos alunos com bolsas de estudo.
Um professor de nível fundamental, da primeira à quinta série, recebe no São Bento, em média, R$ 4.000 por 25 horas semanais. Na cidade do Rio de Janeiro, de acordo com a Secretaria Municipal de Educação, o salário médio de um professor fica em pouco mais de um terço desse valor.
O ex-aluno João Gabriel lembrou as palavras do antigo reitor Dom Tadeu de Albuquerque Lopes, falecido em 2010, para justificar o sucesso do Colégio São Bento.
- O segredo da gente é continuar fazendo o que os outros colégios não fazem: ensinar.